“Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intacta.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com os poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas do chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras,
cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
“Trouxeste a chave?”
in Procura da Poesia, Carlos Drummond Andrade
"Não se escreve com emoções, escreve-se com a memória." - Eugénio de Andrade
Excertos de Carta a Um Jovem Poeta de Rainer Maria Rilke, Coisas de Ler Edições:
“Não escreva poemas de amor: evite de início aquelas formas demasiado fáceis e os lugares comuns; são os mais difíceis...”
“Descreva os seus desgostos e desejos, os pensamentos que lhe ocorrem e as suas crenças nalgum tipo de beleza - descreva tudo isto com ternura e humilde sinceridade e utilize para se expressar as coisas que o rodeiam, as imagens dos seus sonhos e os objectos da sua memória.”
“E, mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem que qualquer som do mundo chegasse aos seus sentidos – não teria ainda a sua infância, esse bem precioso, essa caixa de tesouro das memórias? Volte a sua atenção para ela.”
Como Se Faz Um Poeta
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